22/12/2020
Por: Zara Barbosa
Autoestima
Sobre ser si mesmo...
“A verdadeira violência, a violência que percebi que era indesculpável, é a violência que fazemos com nós mesmos, quando temos medo de ser quem realmente somos.”
(Nomi Marks – Sense 8)
Quantas vezes paramos para pensar sobre quem somos? Sobre o que nos motiva e o que impulsiona nossas ações no mundo? Nós realmente nos conhecemos? Quantas vezes abrimos mãos dos nossos sentimentos e desejos em prol de condutas morais e sociais que nos são impostas dia após dia? Muitas vezes vivemos na impessoalidade, esquecemos de ser nós mesmos e seguimos regras ditadas pela sociedade na qual estamos inseridos sem questionar, acreditando ser o certo, caracterizando assim, o que Heidegger (2013), aponta como um modo impróprio de ser. Seguimos sendo levados pela correnteza e agimos sempre de acordo com o que se espera de nós. Seguimos dessa forma sem pensar ou refletir sobre o que realmente nos importa, sobre o que queremos ou o que sentimos.
Porque será que é tão difícil sermos nós mesmos? Mergulhar na propriedade que clama por nós é extremamente angustiante porque exige um enfrentamento constante a tudo o que nos é imposto. A angústia nos desaloja e nos convida a abrir os olhos para um novo mundo, cheio de possibilidades que dependem apenas de nós para serem alcançadas. Para Heidegger, é a angústia que nos impulsiona. A frase que inicia este texto fala sobre a violência que comentemos ao termos medo de sermos quem somos, de nos abrirmos para o mundo dispostos a lutar por nossos sentimentos e escolhas, pelas coisas que acreditamos e que nos fazem sentir bem, mesmo que não seja o que se é esperado de nós.
Se olharmos para a ficção podemos encontrar muitos exemplos do que estamos falando aqui: como não lembrar do sucesso estrondoso que foi o filme Fronzen? A história gira em torno da relação das duas irmãs Elsa e Anna que ficaram órfãs ainda na infância e nada mais é do que uma história de superação do medo de se ser quem realmente é. Elsa passou a vida inteira tendo que fingir ser quem não era, escondendo seus poderes por medo do que as pessoas poderiam pensar e por não ser algo adequado a uma rainha, tendo que viver escondendo-se não só dos outros, mas de si mesma. Porque será que o filme fez tanto sucesso? O que levou Elsa a ser considerada um novo modelo de Princesa da Disney? Muitas pessoas acabaram por identificarem-se com sua história, com o seu sofrimento e com a sensação maravilhosa de liberdade que ela sentiu ao finalmente assumir seu verdadeiro eu, apesar de todo o preconceito que teve que enfrentar. O mesmo podemos falar da personagem Nomi, do seriado Sense 8, que vive diariamente uma luta contra tudo o que se é imposto socialmente para bancar o seu verdadeiro eu, que neste caso, é ser uma mulher quando biologicamente nasceu homem.
Hoje em dia podemos encontrar muitos casos fictícios como estes que refletem a nossa realidade e, esta reflexão, é um convite para que sejamos capazes de abraçarmos quem realmente somos sem medo dos julgamentos e preconceitos alheios, porque a maior violência que pode existir é a que cometemos contra nós mesmos ao reprimimos nosso verdadeiro eu em prol do que nos é imposto social e culturalmente como uma verdade imutável a ser seguida.
Zara Barbosa,
Psicóloga da Mulher - CRP-17/2465
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